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CCISPM

Entrevista de Sua Excelência a Embaixadora de Marrocos em Portugal, Karima Benyaich

2012

«Demonstramos a vontade firme de reforçar ainda mais as nossas relações e de valorizar os nossos potenciais.»

Karima Benyaich ocupa o cargo de Embaixadora do Reino de Marrocos, em Portugal, desde 2008. História comum, oportunidades económicas, relações diplomáticas, etc., são alguns dos aspetos das relações bilaterais que desenvolve aqui com convicção.

1 – O que pensa das relações bilaterais entre Portugal e Marrocos?

As relações entre Marrocos e Portugal são marcadas por uma amizade tradicional e profunda. A assinatura, em 1774, do Tratado de Comércio e Navegação, entre Marrocos e Portugal, marcou o início de uma nova era na história das relações entre os dois países.

Por outro lado, a abertura, por Marrocos, em 1957, da primeira representação diplomática de um país árabe e africano, em Portugal, constitui um dos factos marcantes da história destas relações.

Estas ligações excecionais foram assinaladas, em Maio de 1994, pela assinatura de um Tratado de Amizade, Cooperação e de Boa Vizinhança que abriu caminho a uma parceria estratégica e que permitiu estabelecer consultas bilaterais permanentes entre os dois países através, nomeadamente, de uma Cimeira anual ao nível dos Chefes de Governo, uma reunião anual dos Ministros dos Negócios Estrangeiros e consultas regulares entre membros dos dois governos.

2 – De entre todos os países europeus ou ocidentais que têm uma relação privilegiada com Marrocos, o que caracteriza Portugal, em particular?

Portugal é um país vizinho: Rabat é a capital mais próxima de Lisboa (uma hora de voo). Esta proximidade não é apenas geográfica, pois baseia-se num rico património histórico e cultural rico. A presença de vestígios portugueses em Marrocos (Mazagan, Mogador, Safi, Asilah, Larache, etc.) e marroquinos em Portugal testemunha esta interação civilizacional entre os dois países.

Portugal e Marrocos são também dois países atlânticos; partilhamos, por isso, as mesmas preocupações em termos de segurança.

3 – Quais são os pontos fortes de Marrocos enquanto país em vias de desenvolvimento? Como é que Portugal olha para o país?

Marrocos apresenta diversos pontos fortes enquanto país emergente.

É necessário referir, em primeiro lugar, a sua estabilidade política. Esta é garantida por instituições democráticas e pela abertura cada vez maior às diferentes componentes da sociedade civil marroquina.

Segundo ponto forte, a sua proximidade geográfica. O posicionamento geográfico de Marrocos, perto dos grandes mercados mundiais, proporciona-lhe uma vantagem comparativa significativa em termos de custos de fatores de produção.

Outro elemento atractivo, a estabilidade do enquadramento macroeconómico marroquino. Esta é considerada como um barómetro para qualquer investidor.

Por outro lado, o seu potencial humano qualificado oferece aos investidores mão-de-obra qualificada a preços competitivos.

O ambiente institucional e jurídico é favorável e constitui, por isso, um outro ponto forte.

Tratando-se da perceção que os meus amigos portugueses têm do meu país, limitar-me-ia a dizer que ela é bastante positiva. É claro que consideramos que as nossas relações económicas estão ainda aquém das nossas aspirações, mas estamos bastante otimistas pela firme determinação de reforçar ainda mais estas relações e valorizar o nosso potencial.

4 – Quais são, do seu ponto de vista, os sectores chave em que o know-how português se pode expressar na sua plenitude, em Marrocos?

Posso garantir-vos que Portugal conquistou notoriedade tecnológica em determinados domínios em expansão, nomeadamente na engenharia da construção civil. Por outro lado, o know-how português ao nível das energias renováveis é reconhecido a nível internacional, através dos grandes projetos energéticos realizados em Portugal. Podemos também mencionar o ambiente, sector em que a experiência portuguesa em matéria de ordenamento do território é pioneira.

Devo também saudar o know-how português em determinados sectores de grande interesse para Marrocos. É o caso da nanotecnologia, do turismo, da formação profissional.

5 – Que sectores de atividade podem suscitar interesse das empresas marroquinas em Portugal ? Que oportunidades apresenta Portugal para as empresas marroquinas?

No que diz respeito aos sectores mais significativos e que apresentam um perfil de sectores prometedores para o desenvolvimento dos negócios luso-marroquinos, devem ser referidos, entre outros: o sector das infraestruturas com todas as suas ramificações, o sector automóvel, no qual Portugal adquiriu uma grande experiência nos mercados da União Europeu, dos Estados Unidos e dos países lusófonos.

Por outro lado, o programa de ação luso-marroquino relativo ao sector do turismo, para o período 2008-2012, permitirá implementar uma cooperação em matéria de investimento, formação hoteleira e turística.

Estão em curso projectos turísticos, uma oportunidade evidente para os operadores portugueses que são convidados a explorá-los, como é o caso do megaprojecto turístico de «Marchica», em Nador.

No entanto, existem outros nichos em expansão que podem ser objecto de uma parceria proveitos para os dois países: a logística, os veículos eléctricos (autocarros, automóveis), os spas, etc.

O que pensa dos grandes empreendimentos iniciados por Sua Majestade o Rei Mohammed VI, e dos projectos de desenvolvimento socioeconómicos, humanos e ambientais de Marrocos?

Os grandes empreendimentos que Sua Majestade o Rei Mohammed VI iniciou inscrevem-se na linha de uma vontade política voluntarista e de um espírito edificador para assegurar a Marrocos a sua estabilidade e prosperidade.

Neste contexto, permita-se referir o discurso de Sua Majestade o Rei, de 9 de Março de 2011, que incidiu sobre o projecto de reforma constitucional, cujo teor é:

  • Conferir a Marrocos, que conheceu diversas reformas constitucionais sucessivas desde a sua independência (5 revisões constitucionais), uma referência constitucional adaptada a um novo contexto nacional dinâmico;
  • Instaurar um modelo marroquino de regionalização avançada que tenha em conta a especificidade sociocultural das diferentes regiões de Marrocos e que consagre a pluralidade da identidade marroquina;
  • trabalhar para a consolidação do Estado de direito e das instituições, ampliando o âmbito das liberdades individuais e colectivas;
  • Reforçar o sistema de direitos humanos em todas as suas dimensões – política, económica, social, cultural, ambiental e de desenvolvimento;
  • Consagrar o princípio da separação de poderes e constitucionalizar a instituição do Primeiro-ministro e do Conselho do Governo e garantir a independência da Justiça;
  • Consolidar os mecanismos de moralização da via pública.

Estamos conscientes de que esta acção voluntarista no campo político é desprovida de qualquer fundamento sem um desenvolvimento económico adequado. As Orientações reais nesta frente também foram definidas, no tempo e no espaço, através de três eixos complementares: grandes investimentos nas infra-estruturas; políticas sectoriais voluntaristas realçando determinados sectores com forte potencial de crescimento e orientados para a exportação (Plano Halieutis, Plano Maroc Vert, etc.); e uma política para o Desenvolvimento Humano e responsável e ambiciosa (INDH).

7 – A direcção da AMPA tem uma nova equipa AMPA. Na sua opinião, de que forma pode a Embaixada constituir um apoio para esta associação?

Em primeiro lugar, quero felicitar a nova equipa da AMPA e desejar-lhe o maior sucesso na sua missão.

Tenho a satisfação de dizer que esta Embaixada terá como missão agir em concertação com esta estrutura para a consolação da parceria económica e para o desenvolvimento das relações empresariais e dos intercâmbios entre os agentes económicos dos dois países, e fornecer todo o apoio necessário em matéria de troca de informações económicas e coordenação para facilitar as missões de negócios dos nossos profissionais.

8 – Que acções são implementadas pela Embaixada para apoiar as relações bilaterais?

Os esforços da Embaixada são implementados de forma a servir quatro objectivos: instalar uma visibilidade clara das nossas relações bilaterais, consagrar a confiança dos parceiros portugueses graças a um maior conhecimento de Marrocos em Portugal, intensificar as ligações entre as instituições dos dois países, as sociedades civis, as colectividades locais, o mundo dos negócios e os centros de estudos e de formação, e desenvolver canais de comunicação permanentes com os decisores, os opinion makers e os meios de comunicação social.

Para isso, são elaborados programas de visitas, são preparadas reuniões de alto nível para desenvolver o nosso enquadramento jurídico de cooperação. Por outro lado, são realizadas regularmente campanhas de sensibilização através de actividades promocionais para dar a conhecer as potencialidades de Marrocos aos intervenientes portugueses.

Além disso, alegro-me com a implementação de 30 ligações aéreas semanais entre os dois países.

9 – Que argumentos apresenta junto dos gestores portugueses para os incentivar a instalarem as suas empresas em Marrocos?

Marrocos, que é um país politicamente estável, aberto e tolerante a nível cultural, situa-se no coração de África e do Mundo árabe-muçulmano, mas está geograficamente próximo da Europa. Constitui um mercado potencial de mais de mil milhões de consumidores e apresenta um quadro económico liberal e um crescimento sustentado.

Marrocos dispõe das estruturas de acolhimento mais modernas, um regime fiscal estimulante, um quadro laboral tranquilizador e recursos humanos adaptados. Um sistema administrativo flexível. Neste âmbito, os investidores portugueses estão isentos de vistos de acesso ao território marroquino.

Assim, Marrocos apresenta importantes factores de atractividade para as empresas portuguesas, porque dispõe de um grande potencial inexplorado em diversos sectores, seja na indústria, na energia e nas minas, nos serviços, nas novas tecnologias de informação e das telecomunicações, agro-alimentar, ou no sector do turismo.

Marrocos é um dos melhores «risco-país» de África, onde o risco de investimento é marginal, tendo em conta diversos acordos multilaterais e bilaterais de protecção do investimento.

Para concluir, convido as empresas portuguesas reconhecidas pelo seu know-how e pelas suas competências em determinados sectores a acompanharem-nos nos grandes empreendimentos que estão a ser realizados no meu país, sob a orientação de Sua Majestade o Rei Mohammed VI.

Enquadramento:

Karima Benyaich, Embaixadora de Marrocos em Portugal, uma carreira fértil a nível profissional

Nascida em Tétouan, Karima Benyaich realizou os seus estudos superiores na Universidade de Montréal, onde obteve um Mestrado em Ciências Económicas, opção de Finanças e Comércio Internacional. Depois de experiências profissionais enriquecedoras, ocupou diversos postos de responsabilidade no Ministério dos Negócios Estrangeiros – encarregada de estudos no Gabinete do Ministro do Estado, directora interina dos Estudos e da coordenação sectorial – antes de ser nomeada Embaixadora de Marrocos em Portugal, em 2008. A sua acção e o seu profissionalismo foram reconhecidos com diversas condecorações de prestígio: Oficial da Ordem Nacional do Mérito do Governo Francês, Comendador al Merito de Chile do Chile, Comandar de la Ordene del Mayor al Merito da Argentina…