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CCISPM

Entrevista com Rui Cordovil, Conselheiro económico da Embaixada de Portugal em Marrocos

2013

“As relações económicas entre Portugal e Marrocos têm-se intensificado nos últimos anos.”

“O meu compromisso diário : mostrar às empresas portuguesas que Marrocos é um país em crescimento, não um país em desenvolvimento”. Assim se exprime o Dr. Rui Cordovil, Conselheiro económico da Embaixada de Portugal em Marrocos. Tendo chegado ao país há menos de um ano, afirma sentir-se já em casa e fala-nos com entusiasmo da sua missão: promover as relações económicas entre os dois países.

Poderia fazer-nos um ponto de situação relativamente às relações económicas entre Portugal e Marrocos?

As relações económicas entre Portugal e Marrocos têm-se intensificado nos últimos anos. Durante os anos 90 e 2000, os dois países colaboraram essencialmente sobre projectos de grande envergadura mas desde há algum tempo que as médias empresas têm vindo a interessar-se por Marrocos. Cada vez mais empresas portuguesas se instalam em Marrocos ou fazem parcerias com as empresas marroquinas. Em 2011, ultrapassámos o milhar de empresas que exportam para Marrocos e sei que poderemos fazer ainda melhor.

Actualmente, a balança comercial entre os dois países é mais favorável a Portugal. Registámos 460 milhões de euros de exportações de Portugal em direcção a Marrocos em Dezembro de 2012, e 156 milhões em exportações de Marrocos para Portugal, o que constitui um aumento de 18% para Portugal e de 13% para Marrocos, em relação ao mesmo período do ano passado.

Quais são actualmente os sectores nos quais as empresas portuguesas e marroquinas podem criar parcerias?

Entre os sectores de actividade mais desenvolvidos em Portugal, figuram todos aqueles relacionados com os plásticos (a produção de moldes para injecção nomeadamente), o sector da confecção e o das novas tecnologias (TIC). É interessante saber que as exportações da maior parte dos países europeus no domínio das TIC diminuíram enquanto que Portugal as conseguiu aumentar. Portugal investiu muito nos últimos anos no sector e obteve excelentes resultados, e é por isso que seria interessante desenvolver parcerias com Marrocos no domínio das TIC. Por exemplo, foi desenvolvido um projecto piloto durante 18 meses envolvendo o Office marocain de la propriété industrielle commerciale (OMPIC) ao qual Portugal deu o seu apoio ao nível das TIC. Julgo também que os sectores da agricultura e agroalimentar são muito importantes em Marrocos. A produção de medicamentos e o sector automóvel podem também apresentar potencial. Portugal tem um grande know-how no domínio dos materiais de construção, da energia e da água e penso que a experiência e a perícia das nossas empresas pode ser muito interessante para Marrocos. Desde já, poucas pessoas sabem que a organização do sector da energia em Portugal serviu de modelo para aquilo que se faz hoje em Marrocos.

A longo prazo, vejo também Marrocos como uma plataforma para os mercados africanos, nomeadamente para a África ocidental.

A crise económica europeia modificou a estratégia de desenvolvimento das empresas portuguesas?

Apesar dos seus efeitos negativos na Europa, a crise económica é também uma oportunidade para as empresas portuguesas explorarem novas oportunidades. Actualmente, muitas empresas portuguesas querem lançar-se fora da Europa, e a exportações portuguesas para países fora da Europa estão já a aumentar. Mas é verdade que, de momento, os empresários portugueses têm como objectivo os mercados lusófonos. O que espero, é conseguir mostrar a esses empresários que Marrocos representa uma excelente oportunidade. Os nossos países são muito próximos geograficamente: Rabat é mais perto de Lisboa do que Madrid, podemos mesmo ir de carro! Marrocos tem também um sistema bancário a funcionar bem, que permite trocas rápidas com outros países mas sobretudo, o sector privado marroquino funciona muito bem. Estou certo de que Marrocos pode desempenhar um papel importante no processo de internacionalização das empresas portuguesas. Estou ainda surpreendido com a performance e a criatividade das medidas tomadas pelo governo e pelos empresários marroquinos. Marrocos é um país em crescimento e não em desenvolvimento.

Como poderá a AMPA reforçar ainda mais as relações económicas entre Marrocos e Portugal?

Trabalho em estreita colaboração com a AMPA e penso que ela faz já um bom trabalho. Na minha opinião, para que melhore ainda mais, devemos trabalhar com as empresas portuguesas já presentes em Marrocos para compreender as suas necessidades e ambições, de modo a ajudá-las a encontrar o melhor caminho, se possível em parceria com as empresas marroquinas. Para isso, devemos informar mais os investidores portugueses. É, desde já, para isso que a newsletter trimestral servirá. Poderemos também organizar missões empresariais e incitar os empresários marroquinos a vir descobrir Portugal. Muito poucos marroquinos conhecem hoje Portugal.

Entre os projectos previstos para 2013, a ministra da Agricultura de Portugal, bem como uma delegação de empresas portuguesas, estiveram presentes no Salon International de l’Agriculture em Meknès. Uma reunião de altos funcionários será também realizada em Portugal este ano, um evento importante que aproxima de forma institucional os dois países.

Por outro lado, a Câmara de Comércio Luso-Marroquina tem prevista uma viagem empresarial a Portugal e a AMPA irá organizar viagens de investidores marroquinos a Portugal.